segunda-feira, 22 de junho de 2020

O Ocaso e a Aurora


Anoitecia e o sol se punha sem demora.
Depois de uma vida distante do pago,
pisava o topo da coxilha em que
situava-se o velho rancho
onde repousaria,
desfrutando pitangas e amoras
que havia plantado ainda menina.
À luz da lua, Eudora podia avistar
a opaca tapera que outrora
abraçara sua infância;
morada construída
havia mais de um século
pelo bisavô que, à memória,
sempre saía ao cair da noite pela estância
com uma caixa de ouro e um escravo (e uma pá)
e voltava sozinho, envolto em uma aura mórbida;
a antiga casa deixada à Eudora
pelos gananciosos irmãos
que, à partilha, dividiram entre si
milhares de hectares ao redor
(mas nunca encontraram moeda sequer);
tapera que agora
revela, à aurora,
brilhos dourados
por entre as eras que a cobrem,
graças à desconhecida fortuna
que forra, à espera de Eudora,
cada parede em ruínas
do âmago dessa história.


(1º lugar no III Concurso Foed Castro Chamma 2020 - categoria internacional)
(Finalista do Prêmio Off Flip de Literatura 2018)  

haicai Minguante


Minguante de outono:
A planta assombra-se e canta
Pedindo transplante


(Finalista no I Concurso ALAP Parnavaí Literária - Categoria Haicai)

haicai Nuvem


A nuvem regressa
Quando se esquece do sonho
De ser céu pra sempre


(Prêmio Especial da Coordenação no IV Festival de Haicai de Petrópolis)


haicai Sakura


Sakura floresce
O espírito samurai
No coração poeta


(1º lugar no âmbito internacional do 3º Concurso de Haicai de Toledo - Kenzo Takemori 2019)